domingo, 4 de dezembro de 2011

Fechadura


Então é assim que funciona?
 Quando se cansa de mim abre a porta e vai embora?
 Tudo bem. Pode ir, mas é preciso que saiba que as coisas nem sempre foram assim, que muitas vezes eu chorei quando isso aconteceu.
 Hoje não choro mais.
 Amadureci: hoje depois que você bate a porta eu me arrumo bem bonita, coloco o vestido mais elegante, o perfume mais atraente e também saio.
 Pelas ruas por onde ando, nos teatros e cinemas eu vejo outros olhares, sou foco, ganho atenção, a atenção que me nega cada vez que vai embora.
 Aprendi a lidar com a sua indiferença em outros braços, que me lembram os seus, sim, e isso não é legal, não me faz bem nem nada, mas me deixa anestesiada frente a essa situação de abandono que eu sinto toda vez que se vai.
 Conta-me a verdade!
 Abre seu coração: é certo que nesse seu mundo não sou a única e nem poderia ser, não é seu perfil... E eu sempre soube disso. O pior é que eu aceitei. E esse foi o meu erro.
 Meu erro foi ter deixado você voltar na primeira vez em que bateu aquela porta do quarto ainda sem ter um motivo, sem dar explicação alguma.
 Errei quando aceitei o seu pedido de desculpas esfarrapado, quando me olhou com aquela cara de quem “eu precisava de um tempo” ou “tenha paciência que tudo se resolve”. Eu aceitei. Cai no seu conto de carochinha, agora é tarde. Já faço parte dessa historinha sem fim e sem graça.
 O problema é que um dia a gente acorda. E quando você der conta, vai voltar e a chave da porta não vai funcionar. Não vai mais conseguir entrar porque terei trocado a fechadura, isso se não mudar de casa.
 Um dia, quando se cansar de procurar por alguém que seja melhor que eu por aí nas ruas e bares em que perambula nas madrugadas vai ser tarde e eu estarei por outros lados, em outro lar, e, se tudo der certo, bem feliz com um homem de verdade do meu lado.

por Dy Eiterer.

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